Bruxas: A história por trás do mito que ainda nos persegue.

Na escuridão da floresta, uma casa de doces esconde um segredo sombrio.

Duas crianças, famintas e perdidas, caem na armadilha de uma senhora acolhedora, que logo se revela uma bruxa malvada ávida por carne infantil. Este é o enredo de “João e Maria”, um conto que faz parte do nosso imaginário desde a infância. Mas, por trás das histórias de bruxas caricatas e assustadoras, há uma realidade complexa e profunda.

As bruxas, ao longo da história, não foram apenas personagens de contos de fadas. Elas eram mulheres reais, independentes, frequentemente perseguidas e julgadas pela igreja. A ideia de bruxaria remete à própria história do Ocidente e das religiões cristãs. Compreender a origem dessa concepção de bruxaria é fundamental para entender a mentalidade medieval e suas implicações na sociedade de hoje.

Quem são as bruxas?

Ao contrário do estereótipo de mulheres feias, malévolas, com vassouras e caldeirões, as bruxas eram pessoas comuns que praticavam ações consideradas heréticas pela igreja. Elas eram vistas como indivíduos que se ligavam voluntariamente ao demoníaco, adquirindo poderes sobrenaturais.

Qualquer acontecimento desastroso era frequentemente atribuído às bruxas e seus supostos poderes. Isso levou à perseguição sistemática das práticas consideradas bruxaria pelo tribunal da Santa Inquisição, uma ferramenta de controle ideológico e social da igreja.

A Mentalidade da Idade Média

A sociedade medieval acreditava conviver com fenômenos sobrenaturais divinos e demoníacos. Era crucial distinguir o sagrado do profano para seguir os ensinamentos de Cristo. Qualquer desvio desses padrões era considerado uma ameaça à Igreja.

O conhecimento popular, especialmente nas mãos das mulheres, como o domínio de plantas medicinais e práticas curativas, era encarado com temor e perseguido pela Igreja. Esse medo contribuiu para associar objetos como chapéus, caldeirões e vassouras à bruxaria.

As Bruxas e o Controle das Mulheres na História

A tradição cristã via as mulheres como responsáveis pelo pecado original, já que Eva teria levado Adão a comer o fruto proibido. Isso associava o feminino ao profano, criando uma mentalidade que limitava a autonomia das mulheres.

A crença na supremacia masculina e a ideia de que as mulheres eram guiadas por paixões e desejos, enquanto os homens eram guiados pela razão, reforçou a tradição patriarcal da sociedade feudal europeia.

Bruxaria e Antissemitismo

Além das mulheres consideradas bruxas, os judeus também eram perseguidos e associados à bruxaria na Idade Média. Isso se devia, em parte, ao antissemitismo cristão, que via os judeus como responsáveis pela crucificação de Jesus.

Havia a crença de que os judeus utilizavam crianças em rituais de sacrifício, alimentando o ódio antissemita que perdurou por séculos. Essas histórias culminaram em eventos trágicos, como o “libelo de sangue”, que levaram à perseguição e morte de judeus.

A Evolução dos Estereótipos

As bruxas não sempre foram retratadas como velhas narigudas com chapéus pontudos. Antes do século XVII, eram associadas aos atos heréticos, não à aparência física. Somente após o declínio da Inquisição, elas passaram a ser representadas como velhas e feias.

A essência da bruxaria, no entanto, permaneceu: mulheres que buscavam autonomia, muitas vezes através de saberes não controlados por autoridades masculinas, eram vistas com desconfiança. Essa luta contra estereótipos e pela independência das mulheres continua até hoje.

As Bruxas do Nosso Tempo

Hoje em dia, as bruxas estão ressurgindo de uma maneira diferente. Elas representam a independência e a conquista da autonomia feminina. Desafiam os rótulos e padrões de beleza e comportamento impostos pela sociedade.

As bruxas contemporâneas são médicas, cientistas, intelectuais, professoras e muito mais. Elas desafiam as barreiras que lhes são impostas, negando os papéis secundários e tornando-se protagonistas de suas próprias histórias.

Seja qual for a crença, é essencial respeitar a dos outros. Ao compreender a história das bruxas, podemos refletir sobre o papel das mulheres na sociedade e as lutas que ainda enfrentam. A bruxaria é muito mais do que um mito; é uma parte importante da nossa história e cultura.

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